terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Tédio

Um gosto estranho em seus lábios, Lenna sente um desconforto qual ela não identifica a origem. Será que existe alguma? Começa a refletir sobre o quanto todos procuramos uma origem para tudo, histórias sobre o início do mundo, deuses, gaia, a divisão dos sexos advindos dos seres redondos de quatro braços e pernas... Seus pensamentos simplesmente não dão descanso. Ela senta no chão, com as pernas cruzadas, com o peito cruzado e nada acontece.

Lenna olha as paredes ao redor, estão envelhecidas, descascando, com um aspecto sujo e entristecido. Ela não acredita mais no passado, este lhe contou muitas histórias confusas e sem sentido, a fez acreditar em bobagens em forma de ilusões. Enquanto fixa o olhar em um pedaço amarelado da parede, ela pensa onde está o “delete” de seu corpo, para que possa começar tudo de novo? Afinal, toda máquina deveria ter uma tecla assim.

Observa suas mãos frágeis, incapazes de segurar o tempo, capazes de destruir mesmo aquilo que não se vê. Sente um sono profundo a chamando para dentro de si, e ela se sente atraída por esta voz que ela vai seguindo, que, então, emerge cada vez mais em si, e ela vai perdendo o contato com o mundo exterior.

Não consegue comer... já sem energia alguma suas pálpebras vão se fechando e ela adormece. Vê a si mesma caindo no Cáucaso, em uma queda sem fim, o despertar para a consciência é realmente algo doloroso, uma ferida que é reaberta dia após dia.

Desta vez não escorrem lágrimas por sua face, não existe remorso e nem vontade de voltar atrás, não existe vontade alguma. Ela olha para seus pequenos pés que sustentam seu corpo, e reflete sobre como algo tão pequeno pode ser uma base, um suporte, e sustentar algo que tem um peso palpável e outro nada concreto, mas também muito real.

Para ela, a palavra do dia é TÉDIO.

2 comentários:

  1. Obrigado pelo comentário. Também apreciei bastante teu textos, mas estou aguardando você atualizar, hehe. Abraço.

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