quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Passando,,, ou não...

O dia se passou e entrecortou em retalhos ora silenciosos ora berrantes. O coração palpitava, mais e mais rapidamente, os membros caiam pesadamente como se fossem arrastar Rachel para baixo, para o Hades, o subterrâneo. A respiração oscilava entre acelerar num ritmo enlouquecedor e parar, como se nada mais houvesse no mundo. Foi olhando para o mundo sem se reconhecer parte dele, e aquele amor que a fazia sentir-se parte, sentir-se em sentido completo agora parece despedaçar suas crenças mais profundas, suas únicas certezas. A aceitação não é incondicional, o prazer não é incondicional... Mas e agora... , agora pensa em Chico “ E agora josé, José para onde? “ Para onde ir se os caminhos se desfizeram? Para onde ir se a vontade acabou? Ela que é canto que em outras bocas se desfaz, ela que é serpente que só a si envenena, ela que acredita e ora se desilude e quer fugir do que pensa, que sente, que acha. Ela que se engana, encoraja e despenca, despenca de tanta coragem que a fez desistir. Rachel que é Rachel, Ana, Maria, Joana, Mariana, Carolina, Josefina... Rachel que é ou não é. O feminino entorpecido, embriagado e contido, explodindo dentro de si

sexta-feira, 12 de março de 2010

Vertigem

Lenna sente uma leve vertigem, o mundo ao redor gira em torno de si, será um leve egocentrismo, também, de sua parte? Seus sonhos de menina estão todos ali, pairando distorcidos, em sua mente. Os vestidos da infância já não cabem mais, visto que sente uma necessidade imensa de cobrir seu corpo com algo que não seja tão leve, feminino e livre.

Começa a pensar que sua vida é uma adaptação de um filme, que para ela se chama "Corra, Lenna, Corra", ela vive correndo contra o tempo, e não a favor dele. De repente, chegando ao fim do arco-íres, encontre um pote de sonhos banhados a ouro, quem sabe...

Lembra que pulava amarelinha, tentando chegar ao céu, que parece agora tão distante. Não podia pisar nas linhas, e continua sem poder pisá-las. Cada passo/pulo deve ser tão certeiro para que não precise voltar, mas ela sempre pisa, e sempre volta, para o mesmo lugar. São tão pequenos os espaços nos quais ela deve estar, que acaba tropeçando, pisando em falso, e regredindo.

Sente, também, como se estivesse ainda, em uma eterna brincadeira, muito séria, de vaca-amarela, e ela sempre perde, acaba falando algo errado, na hora errada. É impressionante como uma palavra mal dita, maldita, a coloca em situações conflitantes.

Quando criança Lenna sonhava em ser atriz, e hoje, ela realizou seu sonho, também de forma distorcida, ensaiando papeis na vida diária, sempre ensaiando, a comédia dramática de sua vida.

E segue, vivendo, com uma taça de loucura, com cubos de desatino, embriagada por seus instintos.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Tédio

Um gosto estranho em seus lábios, Lenna sente um desconforto qual ela não identifica a origem. Será que existe alguma? Começa a refletir sobre o quanto todos procuramos uma origem para tudo, histórias sobre o início do mundo, deuses, gaia, a divisão dos sexos advindos dos seres redondos de quatro braços e pernas... Seus pensamentos simplesmente não dão descanso. Ela senta no chão, com as pernas cruzadas, com o peito cruzado e nada acontece.

Lenna olha as paredes ao redor, estão envelhecidas, descascando, com um aspecto sujo e entristecido. Ela não acredita mais no passado, este lhe contou muitas histórias confusas e sem sentido, a fez acreditar em bobagens em forma de ilusões. Enquanto fixa o olhar em um pedaço amarelado da parede, ela pensa onde está o “delete” de seu corpo, para que possa começar tudo de novo? Afinal, toda máquina deveria ter uma tecla assim.

Observa suas mãos frágeis, incapazes de segurar o tempo, capazes de destruir mesmo aquilo que não se vê. Sente um sono profundo a chamando para dentro de si, e ela se sente atraída por esta voz que ela vai seguindo, que, então, emerge cada vez mais em si, e ela vai perdendo o contato com o mundo exterior.

Não consegue comer... já sem energia alguma suas pálpebras vão se fechando e ela adormece. Vê a si mesma caindo no Cáucaso, em uma queda sem fim, o despertar para a consciência é realmente algo doloroso, uma ferida que é reaberta dia após dia.

Desta vez não escorrem lágrimas por sua face, não existe remorso e nem vontade de voltar atrás, não existe vontade alguma. Ela olha para seus pequenos pés que sustentam seu corpo, e reflete sobre como algo tão pequeno pode ser uma base, um suporte, e sustentar algo que tem um peso palpável e outro nada concreto, mas também muito real.

Para ela, a palavra do dia é TÉDIO.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

As decisões de Rachel para o ano novo começam em um bar. Rachel resolve que hoje é dia de se divertir, ou pelo menos sair da cama. Vai até o armário, a vontade é de vestir qualquer coisa, somente para se cobrir, mas ela se esforça, afinal, hoje é dia de alguma coisa que ela ainda não sabe o que é. Resolve que vai se sentir bonita, então se arruma com aquela roupa coringa que há anos está em seu armário, usada somente em ocasiões especiais, mas ela não foge do preto de sua vida.

Rachel chega no bar, olha ao redor e não reconhece ninguém. Senta-se em uma cadeira junto ao balcão e pede por favor por uma dose dupla de fluoxetina, pois está precisando muito. O rapaz do bar não entende, e ela facilita dizendo que quer uma dose dupla de qualquer coisa forte, à escolha dele.

A bebida desce queimando por sua gartanta, como tudo em si mesma, uma ardência que ela sente dentro de si mesmo antes daquele gole. Rachel percebe que seu corpo trêmulo, frio por fora e queimando por dentro, precisa de algo que ela não reconhece, algo que sirva também para sua alma, que partiu sem deixar nenhum recado. Depois do gole único de sua dose dupla, do que quer que seja visto que ela nem perguntou o que era, Rachel pede uma dose de sua alma, de repente ela está perdida por ali, mas a resposta é que está em falta no momento.

Ela se contenta com tequila e relembra os velhos tempos, que parecem iguais ao hoje, sente que sua vida é um eterno retorno, acaba parando sempre no mesmo lugar. Reflete sobre qual Dharma ela ainda não cumpriu e retorna sempre ao mesmo ponto para encontrar o caminho certo, diferente do que ela tem feito sempre. Ou talvez esteja pagando um carma mesmo. O preço é alto, os juros são exorbitantes. Uma gélida lágrima escorre por sua face, a boca seca sente o gosto do passado e ela faz um leve balançar negativo com sua cabeça.

Percebe que não possuía uma teia de sonhos, mas sim, um castelo de areia de sonhos, que um vento forte levou. Um vento que possui nome próprio. Rachel sente uma vontade imensa de agora ser, também, areia.

Mas ela tem de voltar às decisões, mas depois de tantas doses daquilo que ela não sabe o que é, de tequila e de dor, a única decisão que lhe vêm à cabeça é voltar para a cama.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Calendário

O calendário "Casa de Carnes Estrela", do ano anterior, ainda se encontra pendurado na parede. O que faz ainda, o tempo parado, preso à concretude do hoje, que se encontra em suspensão naquela pequena sala? Rachel olha com certa repulsa para tal papel, devido à sua atitude vegetariana, seu estômago embrulha ao pensar em uma casa de carnes já vencida, fora do tempo.

Rachel percebe que tudo que pertence ao ano anterior está vencido, fora do prazo de validade. E tudo isso, junto ao café frio em sua velha caneca, pode fazer muito mal. Ela não sente fome, não sente o sabor daquilo que ingere, tudo é como um "bater ponto" diário. E a carteirinha, que possui o número de sua identidade, também está vencida.

Divaga, fazendo uma analogia entre presente, passado e futuro e uma casa. As paredes representam o tempo que separa um ambiente/momento, do outro, mas as paredes desta casa são de papel, velho, corroído, e rasgado, os ambientes se interpenetram e não se sabe mais, o que é o que. Onde está 2009, onde está 2010? Tudo parece misturado.

Rachel segue para o banheiro, no intuito de escovar os dentes e tirar o gosto de café amargo, de sua boca. Olha no espelho e vê que existe um furo em sua camiseta, um buraco que ela ainda não havia visto, e isso faz todo o sentido do mundo. Existe um buraco em sua imagem, o que ela veste já não a cobre por inteiro, está, de fato, vulnerável.

Respira o tédio que é todo o ar que existe ao redor de si, os olhos vermelhos e a pele irritada são o reflexo de uma alergia a si mesma, alergia a seus pensamentos, ao sentimentos que de tão intensos são expelidos por seus poros. E depois de suar bastante, o tempo passou.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Entre fumaças e concreto

Lenna sente o chão embaixo de seus pés, um concreto tremido. Em seus lábios um gosto que ela não sentia há tempos, um gosto de cinzas, de ruínas. Em suas veias percorre dor, percorre vida, e ela se pergunta quantos segundos serão necessários para que se esqueça do tempo. Por falar em tempo, a chuva está molhando o concreto.

Sua vida se perde nas flores amarelas, nas luzes que ofuscam as estrelas. E ela sorri, um sorriso também amarelo, desbotad pela ironia da vida. A grande piada que ela declama aos quatro ventos. Seu grito é barrado pelo concreto de seu peito.

Náuseas, vertigens e plapitações. Tremidos internos e externos, ao lembrar da primeira frase. A vaidade escorre à sua frente, caindo em gotas, pelos bueiros.

Deseja um gole, mas já está embriagada de um tudo e um nada que a entorpecem. Por alguns instantes Lenna olha para o seu celular e percebe que esta é uma estranha conexão com o mundo externo, este mundo que hoje ela não quer enxergar, quer mesmo é ouvir seus ruídos internos, que, aliás, estão berrandp, um conjunto de sons tão altos que ela tenta distinguir o que significam.

Pessoas passam por Lenna, fazem um comentário ou outro, mas nada fica, nada é registrado, tudo é fumaça; e o retrato é um borrão, as pessoas são borrões de tinta fora do papel.

Se lembra de um sonho que não era seu, um sonho de escada rolante gigante, que não leva a nenhum lugar. Ela traga a hipocrisia e expele o que tenta digerir, em fumaça.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Insone

O silêncio externo é contrastado com as vozes dentro de mim, ensurdecedoras, berrantes, tão ameaçadoras. Sinto meu ritmo cardíaco acelerar de um modo intenso, daquela forma quando estamos correndo perigo. Olho no espelho e vejo a minha face pálida, minhas pupilas dilatadas e minhas mãos trêmulas. Sinto uma vontade imensa de correr, de me esquivar, mas realmente é difícil fugir de algo que está dentro de mim, a corrida seria exaustiva e fracassada.

Volto para a cama, o quarto escuro, novamente o silêncio externo e meus pés inquietantemente me mostram que o sono não irá me contemplar esta noite. Uma noite sem sonhos... uma noite sem uma vida inteira em algumas horas.

As horas passam, as horas não passam. Neste momento não sei ao certo se sinto o tempo passar lentamente ou apressadamente. Queria que o tempo congelasse para que eu me decidisse... ou simplesmente para não fazer nada, simplesmente, não fazer nada...

A cabeça dói, parece que os pensamentos ganharam densidade, estão fazendo uma forte pressão. O estômago parece ganhar vida própria dentro de mim. A respiração curta, o ar me falta, que ar é este que me falta?

Estou aqui falando de mim, falando de você, divagando sobre sensações que pertencem ao universo humano, mas que parecem, agora, exclusivamente minhas, e isso traz uma sensação de solitude. Essa sensação de solidão que é trazida pelos sentimentos e pensamentos, quando estes começam a me sufocar, pois não são compartilhados, são vivos, mas dentro, e não é possível ser acompanhada neles. Então, minha realidade interna, não compartilhada, permace só, e transbordando por entre os poros de meus devaneios.

Ouvi um sino, o barulho de uma idéia, agudo, cortante. Acho que a noite insone veio após os fantasmas que enfrentei em meus sonhos noite passada. Uma conversa com uma prezada pessoa me despertou para isto. Será que estou evitando o sono, para não esbarrar com o que emerge, de forma abrupta e devastadora?

Acho que agora eu posso dormir, ou talvez agora eu tenha acabado de acordar.