segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Entre fumaças e concreto

Lenna sente o chão embaixo de seus pés, um concreto tremido. Em seus lábios um gosto que ela não sentia há tempos, um gosto de cinzas, de ruínas. Em suas veias percorre dor, percorre vida, e ela se pergunta quantos segundos serão necessários para que se esqueça do tempo. Por falar em tempo, a chuva está molhando o concreto.

Sua vida se perde nas flores amarelas, nas luzes que ofuscam as estrelas. E ela sorri, um sorriso também amarelo, desbotad pela ironia da vida. A grande piada que ela declama aos quatro ventos. Seu grito é barrado pelo concreto de seu peito.

Náuseas, vertigens e plapitações. Tremidos internos e externos, ao lembrar da primeira frase. A vaidade escorre à sua frente, caindo em gotas, pelos bueiros.

Deseja um gole, mas já está embriagada de um tudo e um nada que a entorpecem. Por alguns instantes Lenna olha para o seu celular e percebe que esta é uma estranha conexão com o mundo externo, este mundo que hoje ela não quer enxergar, quer mesmo é ouvir seus ruídos internos, que, aliás, estão berrandp, um conjunto de sons tão altos que ela tenta distinguir o que significam.

Pessoas passam por Lenna, fazem um comentário ou outro, mas nada fica, nada é registrado, tudo é fumaça; e o retrato é um borrão, as pessoas são borrões de tinta fora do papel.

Se lembra de um sonho que não era seu, um sonho de escada rolante gigante, que não leva a nenhum lugar. Ela traga a hipocrisia e expele o que tenta digerir, em fumaça.

Um comentário:

  1. Se eu não entendesse tanto iria dizer apenas "lindo" ou "perfeito", mas vou ousar e chamar de sublime. Curto e sincero, simples e verdadeiro.

    Isso é muito díficil, e isso que eu digo é fazer um texto assim e colocar toda essa bagagem, essa coisa que nos devora por dentro...

    Fica a minha admiração.

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