quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Reflexão

Em uma reflexão doída, me vem o meu nome. Eu o ouço, de tantas vozes distintas, em tantos ritmos, tons, e talvez mesmo, cores. Mas posso dizer que nunca me escuto ali, ele não me define. Será que por isso eu continuo sem um ponto de partida, que me norteie, ou que me dê suporte?

Sigo pensando, então, em diversos nomes que me caberiam, de alguma forma. Existem alguns nos quais gostaria de me encaixar, sublimes, intensos, puros... Mas não, esta não sou eu. E o nome que não me sai da cabeça é “inquietude”, devido a uma inquietação constante que existe dentro de mim, que me torna inconstante. Este algo pulsante, que dispara meu ritmo cardíaco, que me traz a sensação de sufocamento, e ao mesmo tempo me faz sentir como se estivesse caindo no vazio.

E existe este grande e profundo abismo dentro de mim, que permite, a alguns pensamentos, terem um grande espaço para dançar, sem ritmo, descompassados, embaralhados, tropeçando uns nos outros.

Em desarmonia, o passado, que deveria ter ficado lá atrás, se encontra aqui, mesclado com o meu presente, tomando, muitas vezes, o seu lugar. E eu, inquieta, vejo as realidades se chocando, e o hoje se torna um tanto danificado, machucado, pela pressão que o passado exerce em seu pequeno corpo. Este corpo febril, que denuncia os arranhões do ontem.

Vejo meu corpo no espelho, ele está menor, deve estar comprimindo mais e mais o que eu sinto, o que eu não devo, o que eu temo. Um conjunto de “eus” disformes. Estou mais magra, estou perdendo peso, mas o peso dentro de mim não parece menor. O que será que estou perdendo? Em que, meu corpo está se moldando?

Andei me pintando, me colorindo, seria uma tentativa de tirar este preto-e-branco que envolve minha vida externa, a minha superfície? Por dentro sou vermelho, laranja e azul marinho. Por que, então, estes tons de cinza, em minha pele?

O tempo vai passando, e as diversas divagações sobre ele não o fazem parar, e os segundos vão escorrendo por entre meus dedos, enquanto as lágrimas vão me cortando por dentro, a cada instante que passa, a cada instante que me corrói. As pessoas ao lado às vezes estão tão nítidas, com cores tão vibrantes, tão reais e absolutas, em outros momentos estão todas desfocadas, quase invisíveis, mas estão ali. Todas em seus tempos desencontrados; parece que vivemos, ou talvez eu viva, em um instante, um segundo talvez, distinto dos demais. Eis meu eterno desencontro.

Seguindo esta linha de raciocínio, será que meu corpo vive no mesmo instante de minha alma? Será que estou me desencontrando de mim mesma? E será que algum dia saberei as respostas?

Por que você gosta de mim, o que você enxerga que eu não consigo ver? Será que é algum reflexo seu? Pois em mim, o que vejo me angustia, o que sinto me machuca, e o que calo me destrói.

Um comentário:

  1. beta, achei q nao seria possivel, mas vc escreve cada dia melhor. da pra sentir cada palavra e com isso, entender cada sentimento.
    vc eh excepcional!
    saudade monstruosa!!!
    =*****

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